terça-feira, 22 de julho de 2008

UMA QUESTÃO DE HABILITAÇÕES BEM OBSERVADA

Imagem daqui

Os gajos sem a 4ª classe podem fazer coisas porreiras


Lisboa, 15 de Julho de 2008


Meu caro José Sócrates


Ontem mesmo li na primeira página do "Diário de Notícias" que um terço dos investidores na Bolsa só tem a 4.ª Classe. Fiquei indignado. Indignado porque aquela palavra - "só" - é claramente abusiva e dá a entender que neste país onde eu sobrevivo e tu governas, há gente com poucas habilitações para jogar na Bolsa.
Ora, já não há! Havia, mas veio o programa "Novas Oportunidades" que, a juntar a certas e determinadas Universidades cujo nome não vou aqui citar por falta de tempo, terminou com o analfabetismo real e funcional e tornou-nos a todos um país de doutores e engenheiros... ou quase.
E repara que essas cassandras que põem o "só" no artigo se esquecem das inúmeras coisas que gente sem a 4.ª Classe fez pelo país. Exemplos são a pontapé:
- D. Afonso Henriques não tinha a 4.ª Classe e fundou Portugal, além de ter conquistado Lisboa aos mouros;
- D. Diniz, também não a tinha e fez o Pinhal de Leiria e a Universidade de Coimbra, a qual nem sequer dava cursos à noite, na altura;
- D. João I nunca frequentou qualquer escola primária e, conjuntamente com o Nun'Álvares Pereira, deu uma trepa nos castelhanos que ainda hoje lhes dói;
- D. Henrique fundou a Escola de Sagres sem ter escola nenhuma onde tivesse obtido o diploma da 4.ª Classe. Além disso, não consta que houvesse exames ou avaliações de professores nessa escola e nunca ninguém se escandalizou;
- O D. João II também não tinha a 4.ª Classe, nem o D. Manuel, mas talvez o mais chocante seja o facto de Luiz de Camões ter escrito "Os Lusíadas" sem quaisquer habilitações específicas e sem conhecer o deputado Manuel Alegre. Posteriormente leu o livro ao D. Sebastião que, analfabeto, não o podia ler;
- Os três Filipes nem falar português sabiam;
- O D. João IV nunca conseguiu conjugar o verbo restaurar e nunca percebeu se ele era transitivo ou intransitivo;
- O D. João VI foi para o Brasil e por causa dele ainda hoje lá se fala português com um sotaque estranho.
Podemos, pois, concluir que a relação entre a 4.ª Classe e a capacidade de realizar coisas porreiras não é absoluta. Veja-se que o D. Miguel devia ter a 4.ª Classe e era um filho da mãe e o mesmo se pode dizer do Napoleão. Mais recentemente, todos os grandes ditadores tinham a 4.ª Classe (embora seja verdade que aqueles que não eram ditadores também a tinham).
Por isso, caro José Sócrates, numa visão mais ou menos holística da coisa, um povo que sem a 4.ª Classe realizou tanta coisa pode fazer, pelo menos, o dobro depois de ter sido abençoado com as "Novas Oportunidades". Podemos fazer novas coisas porreiras, pá, como o Tratado de Lisboa, caso os irlandeses não consigam dar cabo da coisa.
Mas ainda há muito a fazer! Havendo gente com a confiança e a coragem suficiente para, com apenas a 4.ª Classe, pensar que pode ganhar na Bolsa, há seguramente muita gente por aí a pensar que podes ganhar com maioria absoluta. Independentemente das habilitações que eles e tu possam ter.
Aceita um abraço deste teu

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