António Brotas, Professor Catedrático Jubilado do Instituto Superior Técnico sobre a privatização da ANA
O Diabo - Como comenta a intenção do Governo de querer vender a exploração de todos os aeroportos nacionais a um único operador ou consórcio privado?
António Brotas - Incomparavelmente pior do que a exploração centralizada (que tem defeitos) de todos os aeroportos pelo Estado português, é a exploração de todos os aeroportos portugueses por um único operador privado que, obviamente, defenderá os seu interesses ( que poderão não coincidir nem com os do País, nem com os das regiões ).Alguns empresários e especialistas dizem que, sem concorrência as taxas vão subir muito ...Concorda?Sem concorrência e sem um controle político do Estado, isto é, do Governo que tem periodicamente de se submeter a eleições, as taxas subirão certamente até onde mais convier ao operador único privado.Este modelo poderá então ser desastroso para o País?Seria (espero que não seja) desastroso e com um difícil ou impossível retorno. Um "novo patrão da ANA" ficaria com poder de decisão, ficaria soberano, em questões fundamentais para o desenvolvimento português. Por exemplo, em questões que dizem respeito aos interesses das regiões.
Também há quem alerte para o risco de que quem ficar com a propriedade da ANA poder desistir de construir o novo aeroporto ...O "novo patrão da ANA" não desistiria do novo aeroporto de Alcochete. Este aeroporto é potencialmente uma imensa fonte de riqueza. Pode (e deve) ser feito de um modo faseado, inicialmente com uma única pista, sem necessidade de um elevado financiamento inicial. A curto prazo (4 ou 5 anos) pode começar a render. O financiamento das expansões futuras pode ser assegurado por companhias e empresas interessados em concessões locais. Compreende-se o interesse de privados ( e de muitos intermediários) pela privatização da ANA, numa altura em que os portugueses ainda não se aperceberam inteiramente do que está em jogo. Para privados, a obtenção, agora, a baixo custo, do controle da ANA pode ser o negócio do século. Para o Estado português seria uma dramática abdicação da soberania e um caso de cegueira económica..
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