segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O ESPLENDOR TEM DESTAS COISAS

Imagem daqui

"O preço das medalhas

O desporto sempre foi usado por ditaduras como uma das mais eficazes formas de propaganda. Foi assim com os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, assim voltou a ser com o Mundial de Futebol de 1978, na Argentina, repetiu-se em Moscovo, em 1980, e volta agora a acontecer em Pequim. A China aproveitará este momento para se mostrar moderna e poderosa aos olhos do mundo. E para esconder as suas mazelas.
Um dos argumentos em defesa da entrega da organização dos Jogos à China era o de que ela poderia ajudar a uma abertura política. Doce ilusão. A mesma que leva a pensar, de forma um pouco determinista, que a economia de mercado levará a China à democracia. As organizações de direitos humanos são quase unânimes: em nome da segurança e da eficácia do acontecimento o regime aumentou a repressão e a arbitrariedade. Tendo, desta vez, todo o mundo como cúmplice.
Estes Jogos Olímpicos foram utilizados para esmagar forças oposicionistas, com a mesma desculpa usada por tantas democracias para limitar as liberdades civis: o perigo terrorista. Activistas e defensores dos direitos humanos foram mantidos em prisão domiciliária ou em campos de trabalho forçado para impedir que, nas próximas semanas, protestem aos olhos do mundo. Mais de um milhão de migrantes que trabalharam para construir magníficas obras de arquitectura foram obrigados a abandonar a cidade. Para reduzir, por uns dias, os calamitosos níveis de poluição, foram encerradas centenas de fábricas em Pequim, mandando, de um dia para o outro, milhares de trabalhadores para o desemprego. 300 mil câmaras foram espalhadas pelas ruas e 400 mil voluntários fiscalizam cada bairro para identificar qualquer sinal de distúrbio político. Quem foi expropriado das suas terras ou despejado das suas casas por causa dos Jogos Olímpicos e se atreve a protestar é exemplarmente reprimido.
A escolha de Pequim é a confirmação simbólica da nova potência do Capitalismo Global. Só que esta confirmação tem um preço: de cada vez que virmos um atleta a subir ao pódio saberemos que muitos pagaram bem caro cada medalha.
Pecados de praia
O Comando Marítimo do Sul avançou com a possibilidade de proibir massagens nas praias. Diz o comandante que "toda a gente sabe como começa uma massagem, mas ninguém sabe como vai acabar". Já o presidente da Região de Turismo do Algarve defende que os massagistas têm de ser "pessoas devidamente credenciadas para o efeito". Não queremos entregar a viril fama latina às mãos de simples curiosos.
Mas ninguém pode acusar o comandante, com o adequado nome de Reis Ágoas, de falta de coerência. Esta semana continuou a sua cruzada e resolveu ir directo ao pecado original: proibiu a distribuição de maçãs nas praias, promovida por uma dissimulada Fundação Portuguesa de Cardiologia - o chifrudo esconde-se sempre atrás das melhores intenções. Ao contrário do que acontece com as massagens, sabemos, desde o início dos tempos, como começa e acaba esta história das maçãs."
Daniel Oliveira (publicado no Expresso )

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