domingo, 4 de outubro de 2009

MUITO, MUITO GIRO!



Cavaco explicado às crianças


Meninos, o Presidente da República falou à Nação e, desde já, convém prestarem atenção a essas coisas. Só que, se o ouvissem, não percebiam patavina. Por duas razões estrambólicas, mas que o tio Paulo vai esclarecer-vos.


1) Este Presidente da República exprime-se num idioma exótico chamado cavaquês, que só uma pessoa em todo o Universo domina: este Presidente da República.


2) Às vezes, um tipo diz uma coisa, mas no fundo quer dizer outra. Não está a mentir – é inconsciente. Quem descobriu isso foi um fulano de nome Freud. Hoje ele é quase tão famoso e importante como o Cristiano Ronaldo. Mas no começo da carreira, por dois euros ele analisava-te da cabeça aos pés. Por três euros, deixava que TU o analisasses. E por cinco euros, o gajo não apenas te analisava como engomava as tuas camisas. Bom, Freud dizia que há um conteúdo latente e outro manifesto. O latente é o que gostávamos de dizer; o outro, o que dizemos.


Portanto, eis a dobragem do discurso presidencial (tinha graça ver o ‘Noddy’ falado em inglês?).


“Malta, estou amuado. Não, não “estou” de trombas: eu “sou” trombudo, que para mim é o mesmo do que ser rigoroso. A Manuel Ferreira Leite, por exemplo, é rigorosíssima. Estou amuado porque anda por aí muita gente indecente e antipática, que não concorda comigo, o que é indecente e antipático. Não percebem os meus princípios elevados, que são estes: para quê simplificar, se posso complicar? É estranho: todas as vezes que eu explico uma coisa, tintim por tintim, de A a Z, fica tudo a olhar uns para os outros com caras de parvos. OK, ninguém sabe falar cavaquês, a não ser eu – bom, a Ferreira Leite sabe um bocadinho, mas andou ligeiramente asfixiada por causa duma alergia que apanhou num jardim. E agora o leite está derramado. Dizem que nem eu nem ela somos porreirinhos. Malta, eu adoro bué o público e a opinião pública – só não gramo é o ‘Público’ e a opinião publicada. Miudagem, gostavam que mexessem no vosso Magalhães (ops!) e baralhassem os vossos jogos quando estavam a chegar ao último nível? OK, pode ser que ninguém tenha mexido no meu PC – simplesmente carreguei numa letra errada (tenho dicção sopinha de massa). Mas de certeza alguém mexeu no meu queijo! Quer dizer, perdi todo o apetite. Não me apetece brincar mais. Vou fazer uma fita como o vosso irmão adolescente que ninguém entende. E rogar-vos uma coisa: quando crescerem, não sejam jornalistas nem membros da Oposição. Pronto, e agora vou fazer uma birra. Vou fazer um discurso à Nação.”


Paulo Nogueira, Crítico de Televisão (no CM)

1 comentário:

Jo disse...

É uma boa tradução. Gostei.