quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O POLVO DA ECONOMIA

Imagem retirada daqui
"Mofina Mendes era a pastora tonta de Gil Vicente que conseguia realizar mentalmente uma série de operações lucrativas a partir de um pote de azeite que lhe foi entregue como pagamento do seu trabalho.
Iria à feira vender o pote. Com o lucro haveria de comprar ovos de pata. Com os ovos ficaria rica. Sendo rica haveria de arranjar um marido igualmente rico que haveria de lhe dar uma boa vida.
No meio do turbilhão de investimentos reprodutivos dançava, e no meio da dança partiu o pote.
Sabemos agora que os grandes operadores financeiros americanos eram mofinas vicentinas nos produtos que punham à venda no mercado. Produtos inexistentes, virtuais, futuros, que eram comercializados gerando lucros absurdos e absolutamente especulativos.
Dinheiro, lucro, mercado, a tríade divina do capitalismo endoidecido, dançou o baile sinistro do caos até cair desamparada e falida nos braços do Estado.
Nunca o capitalismo tinha ido tão longe na demência. Nunca o parasitismo tinha alcançado semelhante grau de despudor e de autismo, reproduzindo-se num mundo paralelo ao mundo em que vivemos e sobre ele se abatendo quando perdeu o pé.
O velho mecanismo e modus vivendi liberal, em que o capital se perpetuava através da aplicação dos seus lucros na construção de novas fábricas e na compra de novas tecnologias destinadas ao aprofundamento da mais valia, foram substituídos pela especulação bolsista, em que nada corresponde a coisa alguma.
As fábricas em que a finança neoliberal investe, são fábricas de accionistas, cujo coração bate ao ritmo das operações bancárias e os produtos que vendem cabem num cartão de plástico que titula contas e ganhos exorbitantes.
Este capitalismo desinvestiu na produção de bens necessários à sobrevivência e bem-estar das sociedades, pauperizou a vida no planeta, socializou a miséria, cuspiu no Estado Previdência, perorando inflamado e arrogante sobre os malefícios da intervenção estatal na Economia. "Deixem-nos livres", gritavam os magníficos gestores, e os ecos dos seus uivos encontraram abrigo, complacência e solidariedade nos governos solícitos e domesticados que todos os dias foram reproduzindo as receitas, os argumentos, as ordens emanadas por esta gente sem rosto, que colocou arame farpado na decência, subindo um a um sem qualquer freio os degraus da agiotagem mais criminosa e lucrativa de que há memória.
Agora cheiram a medo e temem pela pele. Ganindo, vão procurar protecção e apoio no Estado que pouco antes haviam injuriado. Sem um pingo de pudor ou uma gota de vergonha, estendem a mão, pedincham auxílios, e aguardam a hora do próximo assalto."

Opinião de Alice Brito, texto retirado DAQUI

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