domingo, 30 de novembro de 2008

CAL- DEI- RA- DA



Imagem daqui

DEIRADA

Caldeirada à portuguesa
Nota de abertura: este prato deve ser confeccionado sempre que o índice de FIB (Felicidade Interna Bruta) andar pelas ruas da amargura.
Ingredientes:
- Professores mal avaliados e mal pagos q.b.
- Uma ministra da Educação inflexível, irritadiça e sob pressão
- Um primeiro-ministro proactivo, criado em cativeiro partidário e levemente quixotesco
- Um líder da Oposição reactiva, magra de carnes e de ideias e versada em "gaffes"
- Um timoneiro comunista vencido pela História e cercado de Verdes por todos os lados
- Um paladino da Direita do tipo cata-vento e sem ideologia clara
- Um jovem revolucionário a caminho de se tornar menos jovem e menos revolucionário
- Um banqueiro em maus lençóis, três ou quatro banqueiros na bancarrota, uma pitada de ex-ministros na corda bamba, um pacote urgente de ajuda financeira e moral para o banqueiro em maus lençóis, para os banqueiros na bancarrota e para os ex-ministros na corda bamba
- Uma mão de desemprego galopante; uma colher de sopa de pobreza, doença, fome e mendicidade; crédito malparado em vinha-d'alhos
- Sindicatos frescos para todos os gostos, apanhados na rua
- Um toque de tristeza, duas xícaras de lágrimas, três salpicos de desilusão
Confecção:
Numa panela grande, mesmo muito grande, coza os professores em lume brando e reserve. Num tacho, aloure o primeiro-ministro e a ministra da Educação, sem deixar esturricar. Reserve. Enfie numa panela de pressão a líder da Oposição, o timoneiro comunista, o paladino da Direita e o jovem revolucionário. Deixe cozinhar durante alguns minutos e depois junte-lhe o desemprego galopante, a pobreza, a doença, a fome, a mendicidade e os sindicatos frescos. Cubra com o crédito malparado em vinha-d'alhos e reserve. Leve ao forno o banqueiro em maus lençóis, os banqueiros na bancarrota e os ex-ministros na corda bamba e polvilhe-os com a ajuda moral e financeira. Por fim, junte tudo na panela de cozer os professores e deixe entrar em ebulição. Despeje numa caçarola e enfeite com a tristeza, as lágrimas e a desilusão.
Serve-se a ferver.

Receita de Fernando Marques no JN

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